A metodologia segue, em geral, as etapas abaixo, podendo variar conforme o período de existência e organização prévia do grupo atendido. Normalmente, conforme menor ou maior o tempo de existência e organização, o grupo tende a seguir o caminho abaixo descrito de maneira mais ou menos exata.
Cada etapa prevê atividades de Formação e Assessoria dos estagiários e supervisores envolvidos. Ou seja, tomando como exemplo o item de “Comercialização”, é necessário que façamos uma assembléia ou reunião com o grupo inteiro para verificar as intenções individuais, apresentar possibilidades de comércio e atingir a um consenso do grupo (Formação), tanto quanto é necessário que façamos uma pesquisa prévia de alternativas de comercialização que o grupo pode encontrar (Assessoria).
Assim, cada estagiário e supervisor dedicam horas semanais para a formação dos grupos tanto quanto dedicam-se também para as atividades de assessoria, que podem ser realizadas no grupo ou em outras esferas que lhe digam respeito.
A) APROXIMAÇÃO (Pré-incubação)
1. Contato inicial: Essa fase corresponde ao momento inicial do grupo, que se formará por demanda espontânea ou proposta da incubadora, e inclui os seguintes momentos:
· Roda inicial de conversa e apresentação dos integrantes do grupo (inclusive os membros da incubadora), contando um pouco de sua história pessoal e de trabalho, e como chegou até ali;
· Apresentação da proposta da incubadora (o que é, como se formou, quais são seus objetivos e método de incubação);
· Apresentação da linha de trabalho da incubadora (o que é economia solidária e seus pressupostos, exemplos de empreendimentos que funcionam nessa filosofia);
· Apresentação do grupo e seus membros (contarão um pouco do histórico da organização e também de seus participantes);
Material necessário: Poderão ser usados recursos visuais (como cartolinas e imagens, vídeos), dinâmicas grupais, rodas de conversa e discussão, entre outros.
2. Planejamento da incubação: Essa fase corresponde ao momento do grupo em que a incubadora, juntamente aos membros do grupo, definirão sobre a parceria ou não. Essa fase inclui os seguintes momentos:
· Reapresentação do método de incubação;
· Apresentação de um termo de incubação que contará com os seguintes itens: Objetivos e metas da incubação; Avaliação do processo; Deveres e direitos das partes; Contribuições da incubadora e do grupo;
Material necessário: Poderão ser usados recursos visuais (como cartolinas e imagens, vídeos), dinâmicas grupais, rodas de conversa e discussão, entre outros.
3. Experiências e Expectativas: Essa fase corresponde ao momento do grupo em que nós da incubadora, juntamente ao grupo, avaliaremos quais as demandas e expectativas daquele grupo, e começaremos a traçar objetivos e ações. Essa fase inclui os seguintes momentos:
· Roda de conversa sobre trabalho e geração de renda;
· Histórico de atividades realizadas pelo grupo ou interesse em realização futura;
· Definição e organização da atividade;
· Conhecimento da cadeia produtiva (Design Thinking) – Imersão na cadeia produtiva de interesse do grupo para compreensão mercadológica e política do ramo (Estagiário e membro(s) do grupo – Aprender sobre a cadeia estudada e ilustrada – Fornecedores, distribuidores, varejistas, consumidores finais);
· Definição de um Modelo de Negócio (utilizando o Canvas): Empreendimento inicial: Definir um produto e um serviço a ser trabalhado; Trabalhar as características do empreendimento;
Material necessário: Poderão ser usados recursos visuais (como cartolinas e imagens, vídeos), dinâmicas grupais, rodas de conversa e discussão, entre outros.
4. Calendários: Essa fase corresponde ao momento do grupo em que haverá organização com prazo das ações, e envolverá os seguintes momentos:
· Calendário de eventos: Formações, assembleias, datas importantes;
· Planejamento de ações semestrais (baseado no Canvas);
· Depoimentos (Registros de mudanças de vida, reconstrução) – Procedimento contínuo ao longo da incubação;
· Fazer email e facebook para cada um;
· Fazer ficha de cadastro individual;
B) ESTRUTURAÇÃO - INCUBAÇÃO
1. Regras Gerais/Regimento Interno: Primeira versão de Regimento Interno a ser construída junto com o grupo. Essa fase envolve:
· Reuniões/assembleias para construção de regimento interno;
2. Planejamento/Organização da Produção: Definição de processos/sistemas/tarefas entre os membros do grupo. Essa fase envolve:
· Análise de viabilidade econômica dos produtos/serviços;
· Análise de custos dos produtos e serviços; definições sobre a cadeia de suprimentos; pesquisa de demanda; divisões de tarefas, entre outros;
3. Comercialização: definição dos canais de comercialização a serem explorados. Essa fase envolve:
· Dinâmicas com o grupo para aferir suas intenções;
· Pesquisa externa com outros grupos e outras possibilidades de comercialização;
· Apresentação de possibilidades para o grupo; entre outras.
4. Planejamento Participativo: nesta etapa, facilitamos com o grupo um planejamento participativo, após apresentar as possibilidades, permitindo o empoderamento de seus membros, que deverão analisar a situação presente da organização, ambicionar o futuro que desejam e traçar um plano de ação necessário para atingir seus objetivos. Essa etapa envolve:
· Facilitação em dois ou três encontros de um planejamento participativo, e seu acompanhamento posterior, no qual ocorrem ajustes necessários ao aumento de renda dos membros do grupo, a comunicação com a sociedade, a maior coesão de seus membros e à melhor organização do trabalho;
5. Formalização jurídica: verificando-se após alguns meses a viabilidade técnica/econômica/social/política do grupo, que consegue garantir certo nível de renda, satisfação, realização e felicidade aos seus membros, a assessoria busca os procedimentos necessários para sua constituição jurídica. Essa etapa envolve:
· Pesquisa de possibilidades jurídicas ao grupo;
· Apresentação de tais possibilidades e discussão;
· Assembleia de constituição e eleição do grupo;
· Registro nos órgãos competentes.
C) CONSOLIDAÇÃO
1. Assessoramento e Empoderamento geral: nesta etapa, com as atividades produtivas, comerciais, jurídicas e financeiras do grupo em andamento, torna-se necessária a assessoria constante, mas não apenas o cumprimento das tarefas por estagiários e supervisores da incubadora, mas como também passar informações e instruir os membros do grupo nas suas decisões e ações que respeitem a autogestão ou no mínimo gestão participativa. Essa etapa envolve, entre outros:
· Protocolamento de ofícios na prefeitura;
· Pesquisa e orçamentos de materiais com melhor custo/benefício;
· Pesquisa constante de alternativas de escoamento da produção ou novos clientes para serviços;
· Sistematização dos procedimentos administrativos de autogestão e controle.
2. Integração sócio-cultural: nesta etapa, além de buscar sempre manter um clima organizacional harmônico para a autogestão, buscamos o envolvimento do grupo na comunidade e suas problemáticas. Além disso, oferecemos a possibilidade de apoio a auto-organização para atividades que celebrem os anseios culturais, educacionais e recreativos do grupo, como visitas a parques, clubes, oficinas de dança, de relaxamento, alongamento, entre outras.
3. Planejar, Acompanhar e Avaliar: ao atingir essa fase, o grupo já passou por um período de tempo razoável de incubação, e deve reservar períodos de avaliação tanto do processo de incubação quanto do andamento dos seus planejamentos de atividades. Sendo assim, a incubadora torna-se gradativamente em uma parceira facilitadora dos planejamentos, além de acompanhar as ações conduzidas e mediar as avaliações realizadas do processo. Essa etapa pressupõe:
· Planejamentos com periodicidade constante;
· Acompanhamento da realização das ações planejadas;
· Avaliações e correções necessárias junto com o grupo.
D) EMANCIPAÇÃO E ENGAJAMENTO (desincubação)
1. Acompanhamento à Distância e Assessorias Pontuais: pressupõe-se que o grupo, ao alcançar esta fase, adquiriu autonomia suficiente para manter-se viável econômico, cultura e socialmente sem a necessidade da presença semanal constante dos membros e das ações da incubadora. Sendo assim, a incubadora acompanha a evolução do grupo com certa distância, visitando com períodos mais longos, com ligações telefônicas e outras formas de acompanhamento. Se ocorre a necessidade de alguma assessoria pontual, a incubadora pode ser acionada para atuar especificamente para tal objetivo. Nessa etapa podem ocorrer:
· Relatórios de evolução independente do empreendimento;
· Assessorias pontuais na busca de orçamentos, na abertura de editais, na captação de verbas ou novos clientes.
2. Engajamento nas Redes de Economia Solidária: a economia solidária não é algo que se faz isoladamente. É importante que o grupo se envolva nos movimentos e ideologias de fomento e disseminação da economia solidária. Isso pode pressupor o incentivo ao desenvolvimento da cadeia produtiva em seu setor de maneira solidária. Além disso, os movimentos de representação do setor, como por exemplo o Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos, são de fundamental importância e não prescindem da participação dos empreendimentos envolvidos. Exemplos de ações nesta etapa são:
· Busca por possíveis ações a serem desenvolvidas na rede produtiva em que se insere o empreendimento para fomentar a economia solidária;
· Atuação junto à comunidade do empreendimento para o desenvolvimento de novos empreendimentos solidários;
· Possibilidade de criação de estruturas de financiamento próprias, como bancos comunitários;
· Participação ativa nos movimentos representativos da classe.
3. Engajamento político: Os empreendimentos solidários devem buscar consonância nas políticas públicas para representação e fomento ao seu movimento. Hoje, existe a Secretaria Nacional de Economia Solidária, mas poucos são os municípios que possuem uma secretaria ou conselho municipal de economia solidária. Sendo assim, é necessário que a nível municipal, a incubadora junto com o empreendimento busquem sempre o desenvolvimento de um ambiente político e econômico favorável à criação e manutenção de empreendimentos econômicos solidários. Essa etapa consiste em ações como:
· Realização de um Fórum Municipal de Economia Solidária;
· Participação nos Fóruns Regionais;
· Realização de Encontros entre empreendimentos solidários;
· Conversas e encontros com vereadores e outros representantes públicos.
4. Emancipação: Nesta etapa, atinge-se a um nível em que o empreendimento está viável política, econômica, cultural e socialmente, promovendo qualidade de vida aos seus trabalhadores, tanto quanto buscando desenvolver a economia solidária e manifestar-se acerca de seus direitos e de seu movimento a nível local e federal. A incubadora atua apenas no sentido de avaliações dos trabalhos e poucas assessorias pontuais. Os empreendimentos que atingem este nível são poucos no momento atual brasileiro, devido às diversas circunstâncias desafiadoras a que estão envoltos os EES.